terça-feira, 9 de novembro de 2010

A última entrevista de Renato

A última entrevista de Renato Russo foi concedida a Marcelo Fres, da revista de rock International Magazine, em julho de 1996. Aqui, alguns trechos:
O heavy está morrendo...
Renato Russo - =E... Ah, mas ele volta, ele volta.
Mas e você, como é que você está?
Russo - Ah, eu tô complicado. Eu não quero falar sobre isso.
E o lançamento do disco (A Tempestade)? Você já sabe quando será?
Russo - (silêncio) Essa eu não vou responder. Quando sair, a gente faz uma sessão especial. Agora eu não tô muito legal. Você nota como eu estou.
Outro dia, você me ligou, eu achei que estivesse. Estava mais pra cima.
Russo - Não, tudo bem. Eu tô bem, eu sou uma pessoa que está bem. Aqui eu tô legal. Quer dizer, neste exato momento, eu tô legal, mas meu processo é muito complicado.



Você tem consciência de que seus fãs sabem exatamente como você está?
Russo - (silêncio) Mais ou menos. Eu fico bem de manhã e fico mal de tarde. Qual foi? Hoje de manhã eu tava supermal, tava lá pensando nas minhas coisas. Eu não sou filhote de Dostoievski, entendeu? Meu temperamento e meu caráter são assim, ora bolas. Você é jovial, você é fortinho... Existe uma tradição, os medievais começaram a estudar isso. Eu sou mais um outro tipo de pessoa, sinto muito. Eu não tô especialmente a fim de dançar a dança da garrafinha (risos). Eu não acho isso divertido.
Você é otimista com relação às suas fases e a sua recuperação?
Russo - Eu acho que qualquer pessoa que tenha uma visão do que acontece e do que eu faço - do meu trabalho, da minha vida, das minhas palavras e dos meus atos - vai ter resposta para essa sua pergunta. Eu não sou dono de nada, eu não entendo nada. É só que eu gosto mais de falar como Bob Dylan. É porque na época as pessoas eram completamente idiotas, mas eu já li entrevistas magníficas de Bob Dylan, quando ele, de repente, percebeu que podia pelo menos abrir o jogo e falar um pouco de verdade.
Três ou quatro anos atrás, esse era o discurso do Bono. Agora, a gente aprendeu a mentir. Todos passam por esse processo; acho que é humano.
Fiz a pergunta porque você comenta sua melancolia com frequencia...
Russo - Mas não é bem uma melancolia. É porque não é a dança da garrafinha! São dois extremos. (...) Aqui no Brasil, nós somos alegres, mas não somos felizes. Existe toda uma melancolia e uma saudade que a gente herdou dos portugueses e a gente nem começou a resolver. A gente não sabe o que é nosso país. Não existe um debate, por exemplo, dizendo o que é Adriane Galisteu! (risos) Pra explicar a sério a motivação da televisão, dando números e as necessidades psicológicas das pessoas, etc, etc.(silêncio) Eu sou a pessoa mais mentirosa e mais pretensiosa do mundo!
Talvez em outros momentos, menos agora.
Russo - Ponto final.

Nenhum comentário:

Postar um comentário